31.12.12

Fim do ano


Encontras-te assim, sem memória,
como que apagado das moradas onde estiveste.
Olhas apenas para o passado.
Essa dor toda que sentes são as coisas esparsas,
tocadas pela tua respiração,
a acomodarem-se ao teu peito.
Tinhas que ser maior e mais forte
ou mais pequeno e mais fraco.

Fugiste de muita gente porque tinhas de fugir.
Não gostas de estar metido num saco de certezas
que não sejam tuas.
Não te aceitas num lugar onde não possas ser novo.
Não te deixas envelhecer no outro,
se o outro não for da tua sintonia.
Nessa fuga acabaste também por encontrar
sentidos mais fortes onde te aproximar.
Não falas nunca de sabedoria,
mas de tanto olhar por ti,
acabaste por perceber umas quantas coisas nos outros.

Moves-te por amor. Por nada mais.
Soltas todas as tuas inseguranças
e voltas a dar as cartas sobre a mesa.
Estás convencido de que te faltam palavras,
tentas sossegar-te quanto à falta de poderes.

Habituaste-te a que o silêncio calasse também o mundo à tua volta.
Das reações não entendes mais do que pequeníssimos sussurros
e a verdade é que, podendo chegar onde quiseres,
nunca estiveste tão perto da casa onde bate o teu coração.

Quem bater à porta, ver-te-á nas roupas simples,
no corpo reconstruído, no olhar vivo.
Quem souber ler, lerá.
Quem quiser sentir, sentirá.
Não existem homens novos, por aqui.
Apenas um que continua a rasgar pelo mato uma estrada para si.