23.2.15

Nunca em vão

A estrada com sol
A estrada com chuva
A estrada de noite
A estrada de dia
A estrada
A estrada
A estrada

19.2.15

Novo chão

O poema desliza como a terra
no dia em que o rio salta as margens
e as avós gritam de mãos na cabeça
a horta os bichos o muro velho.

Tenho os pés enterrados no novo chão.

18.2.15

Regador

Fiz várias vezes
o mesmo caminho
até o conhecer
de olhos cerrados.

Aspirei a casa,
lavei a roupa, a loiça,
e chorei baixinho
enquanto esperava.

Não terás assim como perceber
que me esqueci de regar as flores.

17.2.15

13.2.15

Registo de interesse

Pouco dado,
não por ser
calado, mas
mesmo sem interesse.

Registe-se e assine-se
digitalmente -
para poupar o ar
mas não a gente.

12.2.15

Recado

Vê mas é se escreves
qualquer coisa que eu possa
por ti repetir
a quem o goste de ouvir.
Pode parecer peta,
mas não nasci poeta

11.2.15

10.2.15

Cigano

Fogem de mim, com saúde,
os que medo da cura pressentem.

Fazem-se rijos, enquanto tremem,
dançam perdidos, de olho na burra.

Mal eles sabem que de cigano,
só tenho a barba e a palavra rude.

Pouco lhes posso fazer tal dano.
Fujam de mim, se têm saúde.

9.2.15

Roda

Não digo que não me percebas,
sou eu que não me explico bem.
Mas se fosses em mim entendida
para que me quererias também?

6.2.15

Caçador

Da caça levo a agitação
e os risos altos da malta -
sempre fechei os olhos
à bicharada morta.

Sempre fui pequeno
para bater à tua porta.

5.2.15

Perdiz

Pequena e frágil
a perdiz fez-se arte,
gastronomia e luxo.

Mas poucas são
as que resistem
a dois tiros no bucho.