14.4.11

Deixem-se de merdas, somos todos culpados

A Trama fechou e o coro das lamentações soa agora tão alto quanto soou quando a Trama abriu. É este o ciclo da vida. Nascer e morrer com estrondo, sobreviver calado.

José Mário Silva, Pedro Eiras e Luís Filipe Cristóvão na Trama

A Trama fechou e com ela fecha um sonho, não o da Catarina e do Ricardo, mas um sonho muito maior de acreditar que é possível existir uma livraria como a Trama, com livros, ideias e propostas de qualidade. Um sonho de acreditar que isso é possível em Portugal e, como tantas outras coisas, para que exista neste país, teria que ser em Lisboa. Se a Trama não se aguenta em Lisboa, o que dizer do resto do país?

A Trama fechou e com isso temos mais uma oportunidade de pensar o que andamos aqui a fazer. As pessoas querem ler, mas não querem, propriamente, comprar livros. As pessoas querem comprar, mas não estão para se estar a chatear com idas a livrarias e problemas de estacionamento. As pessoas vão a livrarias, mas não estão propriamente conscientes de que o acto de compra é um contributo para manter um espaço aberto. Compramos nos hipermercados, nas Fnac’s, nas Amazon’s. Compramos na sociedade do conforto. E de tanto conforto, um destes dias, não saberemos onde ir ver livros, porque as livrarias estarão todas fechadas.

A Trama fechou e eu não paro de pensar em mini-mercados. Antigamente, existiam mini-mercados em todos os bairros. Depois começaram a haver hipermercados nas cidades e os mini-mercados fecharam. Hoje em dia, custa-nos imenso ter que aguentar uma fila num hipermercado só porque nos falta um litro de leite para o pequeno-almoço do dia seguinte. Percebem? Não, não acho que percebam.

Um espaço comercial, por mais alternativo, especial e poético que ele possa parecer, é um espaço comercial. Hoje em dia nada se faz sem dinheiro. O problema da Trama não é a crise, nem uma maior ou menos habilidade de gerir um barco na tempestade. O problema da Trama somos todos nós. Não sabemos o que andamos aqui a fazer. A dar salvas às novidades e a arrancar cabelos às coisas que partem. Cada vez mais, saber como ajudar à sobrevivência é a verdadeira questão. 

7.4.11

Encontro em Torres Vedras

A Biblioteca Municipal de Torres Vedras convidou-me, junto com a Amélie Bouvier, para nos encontrarmos com meninos de escolas do Concelho. Foram dois dias cheios de coisas boas.

Na terça-feira, os meninos da Boavista da Silveira, vieram até Torres no autocarro, para terem um dia fantástico. De manhã, vieram conhecer-nos e, depois, seguiram para o Parque Verde fazer um piquenique. Muitos destes meninos tinham imensas perguntas sobre como é possível o Afonso ter voado e visitado tantos lugares assim tão pequeno. Todos perceberam os grandes poderes da imaginação, numa longa conversa cheia de histórias de como se pode criar uma armadilha para escritores. A sessão não terminou sem que víssemos os trabalhos realizados pelos meninos desta escola, uma autêntica galeria de grandes trabalhos que mereceram a nossa aprovação, claro. Quem sabe, nas asas do Afonso e nas corridas pela relva do Parque Verde, não terão nascido mais umas quantas histórias maravilhosas.

Na quarta-feira, começamos por receber, durante a manhã, os meninos da escola da Costa de Água. Trata-se de uma pequena aldeia do interior do concelho onde, como me disse a professora, os correios demoram dias a entregar as cartas, e assim raramente têm tido oportunidade de visitar a Biblioteca Municipal. Mas desta vez tiveram muita sorte. Não só ficaram a conhecer melhor a história do escritor e da ilustradora do Afonso, como também aprenderam a fazer um livro, algo que poderão repetir em casa. As carências em pequenas localidades como estas são mais que muitas, e nem todos os meninos podem beneficiar de brincadeiras que o Afonso faz, mas em todos aqueles pequenos existe uma semente de imaginação e sonho que é preciso ajudar a desenvolver. Um deles saiu mesmo muito triste por não poder levar um livro com ele. Mas eu preparei-lhes uma surpresa. Hoje ou amanhã, chegará um pequeno embrulho à Costa de Água, provavelmente entregue pelo senhor do café. Quando abrirem o presente, os meninos vão ter mais três livros para ler e para rechear a prateleira dos livros. Livros como eles gostas. Com máquinas (A grande invasão), com coisas impossíveis (Quem quer um rinoceronte barato?) e com histórias de sonho e magia (Contos Contigo). Espero que possam ser ainda mais felizes.


Na parte da tarde, recebemos as turmas do primeiro ano da EB1 de Torres Vedras. Como nem todos conheciam a história do Afonso, houve sessão de contador de histórias. Entre o espanto e a gargalhada, os pequenos lá foram aguentando a energia que explodiu no momento de fazer perguntas. Quiseram saber tudo, não só sobre a história, mas também sobre o escritor e a ilustradora ali presentes. Muitos não se coibiram de dizer que já tinham experimentado fazer armadilhas para escritores (com redes e folhas), e alguns anunciaram a sua vontade de ser escritores quando forem grandes. Ficaram todos muito contentes por saberem que têm um escritor a passar à porta da escola deles todos os dias, quem sabe não terão a sorte de ver nascer uma história nos ramos das árvores do recreio. Havia de ser bonito.

5.4.11

Luís Filipe Cristóvão acompanha o livro da escrita até à livraria



Torres Vedras, Lisboa, 02 abr (Lusa)- Da escrita até à livraria, o percurso do livro está espelhado no quotidiano de Luís Filipe Cristóvão, autor de "Afonso e o Livro", uma história para crianças cujo protagonista procura o livro ideal.

Apesar da azáfama dos últimos três meses de promoção em escolas e bibliotecas em todo o país do livro "Afonso e o Livro", é em Torres Vedras, onde nasceu e onde reside, que Luís Filipe Cristóvão é ainda editor e livreiro, atividades que não esgotam a sua relação com a literatura.

O escritor é também responsável pela organização de eventos literários e pelo Encontro de Escritores de Torres Vedras, além de escrever para teatro e poemas para músicas.

Estas aventuras levam-no a encontrar semelhanças com a personagem do livro, o primeiro para crianças dos seis já publicados.

Afonso "faz grande parte do meu trabalho do dia-a-dia enquanto editor de livros, exceto subir às árvores e correr atrás dos gatos" diz, esclarecendo logo de seguida que quis partilhar com os leitores "a magia de perceber como um livro se faz".

E as semelhanças não se ficam por aqui: as aventuras de Afonso à procura do livro imaginário "estão a sugerir fortemente aos miúdos que eles se tornem leitores" à semelhança da personagem, um exercício de escrita idêntico ao de outras obras suas.

"A minha escrita procura aproximar-se do leitor para o trazer para dentro da história", explica Luís Filipe Cristóvão, acrescentando que, no caso de "Afonso e o Livro", tem descoberto por todo o país "muitos afonsos", crianças para quem o seu livro "foi mesmo o primeiro que leram".

Em contacto com os livros desde muito novo enquanto leitor, pelo "encanto pelas palavras, pelos livros e pela imaginação que nasce da palavra escrita", começou na adolescência a escrever os seus próprios poemas, mas só durante o curso de Literaturas Modernas começou a publicá-los num jornal local e na revista da Faculdade de Letras de Lisboa.

"Nunca encontrei uma função utilitária no poema. Ao pôr as palavras no papel tinha sensações estranhas, uma espécie de terapia pela escrita", refere,

Aos 32 anos, Luís Filipe Cristóvão é autor de outras cinco obras de poesia: "Registo de Nascimento" (2005), "Pequena Antologia para o Corpo" (2007), "E Como Ficou Chato Ser Moderno" (2007), "Santa Cruz" (2008) e "A Cabeça de Fernando Pessoa" (2009).

Depois de "Afonso e o Livro", ilustrado por Amélie Bouvier, o escritor promete para breve outros dois livros infantis.

4.4.11

Fazer um livro com o Afonso

No Dia Internacional do Livro Infantil, a Biblioteca Municipal de Torres Vedras convidou o Afonso para ser a estrela do dia. Numa das salas infantis repleta de miúdos e graúdos, começamos por ficar a conhecer melhor a história do Afonso e a sua grande aventura de fazer um livro, o seu livro preferido.

Como todos os meninos e meninas ficaram muito animados com este mistério agora descoberto, a Amélie ensinou-os a fazer o seu próprio livro. O resultado não podia ter sido melhor! Descobrimos uma série de artistas das histórias e das ilustrações, com o João, o Alfredo, a Mafalda, a Filipa, a Rita, o Pedro e mais uma série de grandes contadores de histórias a levarem para casa a sua primeira obra.

Em alguns casos, desconfio até que vamos ter grandes produtores de livros para o futuro, tal é o jeito e a alegria que colocaram na sua primeira obra.

Esta semana, eu e a Amélie Bouvier voltamos a estar na Biblioteca Municipal de Torres Vedras, a falar do Afonso para turmas de escolas do concelho. Ainda há inscrições abertas!

2.4.11

Dia Internacional do Livro Infantil

Por ocasião do Dia Internacional do Livro Infantil, a Agência Lusa escolheu-me como uma das notícias do dia.
É ver a versão "express" espalhada por aí:

Expresso

RTP

Visão

i online

Quanto a festas, já sabem. A partir das 15h30, na Biblioteca Municipal de Torres Vedras, eu e a Amélie Bouvier vamos ler a história do Afonso e ensinar como se faz um livro em casa. Até já!

1.4.11

Afonso no Bombarral

Na passada quarta-feira, o Afonso foi até ao Bombarral para se encontrar com os meninos e meninas do Agrupamento de Escolas de Fernão Pó.

A manhã começou com turmas do ensino básico. Havia muitas perguntas e curiosidades sobre o Afonso. Desde meninos que queriam saber se o Afonso existe na vida real, se já se fizeram filmes ou jogos a partir desta história, como é que ele apareceu na minha imaginação e como foram feitos os desenhos. Alguns meninos tinham também grandes ideias para livros que eu vou escrever no futuro e queriam muito dizer-me como eram bonitas as ilustrações da Amélie. Bem engraçado o momento em que, já perto do final da sessão, um dos miúdos, com cara de CSI, me fez esta pergunta/comentário: “quer dizer então que o seu objectivo é influenciar as crianças à leitura?!?”

A seguir vieram uns meninos mais crescidos, mas com igual curiosidade! O melhor momento da manhã foi quando me perguntaram sobre as minhas brincadeiras preferidas, quando eu era criança. Entre outras coisas, não pude deixar de referir a minha paixão por jogar à carica. E não é que descobri que isso já é uma coisa tão do passado que aqueles miúdos de 11 e 12 anos não fazem sequer ideia do que se trata? Pois bem. Ensinei a um deles os campeonatos de futebol que eu fazia com caricas e ele parecia ter descoberto a pólvora! Como brilharam os olhos dele. E, claro, fiquei eu todo orgulhoso por poder fazer renascer a importância do jogo da carica no Bombarral.

Depois, o almoço decorreu no restaurante pedagógico, onde pude comprovar o excelente trabalho que os alunos dos cursos profissionais de hotelaria estão a realizar. Na parte da tarde, houve ainda tempo para falar de poesia com um grupo de professoras e com uma aluna da Escola Secundária. Tudo tempo agradável, porque para além da simpatia das pessoas, a Escola do Bombarral tem das bibliotecas mais bonitas que eu já visitei (e sim, vale a pena ir até lá espreitá-la).