10.10.14

Olá

O olá desfez-se entre os lábios, como uma folha que desaparece com o vento. Mas ele ainda estava ali. Ficou sem mais nada o que dizer, perante o silêncio dela tão semelhante ao dele como uma face que cora perante o vazio. Na rua da incompreensão mútua, vão amar-se silenciosamente para sempre.

9.10.14

Cara

Seleciono caras no meio da multidão, podia culpar outra coisa, culpo apenas a miopia, o ar condicionado. Seleciono caras, simpatias, pronto a inventar comunhões que nunca virão a existir. Como explicar a um olhar uma teoria poética que pode nunca vir a terminar? Cansam-me as erudições e só sei viver nelas.

8.10.14

Regresso

Voltava a andar pelo passeio como se ninguém o visse. É bom voltar a estar no mundo onde te ignoram. Só te pesam os pés porque as horas, agora, se fazem de minutos que entendes melhor. Ninguém pensou que ia ser diferente. Estava-te a contar o quê?

7.10.14

Lírico

Chamou-me lírico como quem diz boa tarde e nas paredes da casa escorria a humidade do inverno que chegou quente. O corpo suado já falava o suficiente da minha pessoa, dizer mais para quê. Não faço perguntas, não quero respostas. Chamou-me lírico. Segui viagem.