Pensei que a
solidão se fizesse sempre
pela
exclusão –
realmente
foi aqui que começou
a história
do pastor.
No entanto,
ele era uma casa inteira,
gente do
sangue e da carne sua,
nomes que
haviam surgido
entre as
primeiras palavras da boca.
Ele era uma
casa inteira
e o seu
quarto inaugurava a solidão.
Os seus
muitos irmãos,
pais e mães,
acorriam de
braços abertos
à sua
existência,
beijavam-lhe
a fronte e davam-lhe graças
pela
coragem.
Ele era o
pastor, ele conduzia o rebanho.
Transportava
nas mãos
a riqueza da
família
que todos os
dias mergulhava na terra
como quem
vai alimentar as sementes
dos frutos e
vegetais
fazendo
amor, à bruta, com elas.
Os seus
muitos irmãos e pais
chegavam a
casa sujos,
os dentes
verdes.
Eles eram o
princípio da cadeia alimentar.
As mães
sentavam-se sobre os animais da casa
e gozavam.
Limpavam as
camas e os poucos objectos da casa,
acariciavam
os instrumentos da cozinha
e gozavam.
Ele era o
pastor, ele conduzia o rebanho.