15.12.12

O pastor; a solidão - 2


Pensei que a solidão se fizesse sempre
pela exclusão –
realmente foi aqui que começou
a história do pastor.
No entanto, ele era uma casa inteira,
gente do sangue e da carne sua,
nomes que haviam surgido
entre as primeiras palavras da boca.
Ele era uma casa inteira
e o seu quarto inaugurava a solidão.
Os seus muitos irmãos,
pais e mães,
acorriam de braços abertos
à sua existência,
beijavam-lhe a fronte e davam-lhe graças
pela coragem.
Ele era o pastor, ele conduzia o rebanho.
Transportava nas mãos
a riqueza da família
que todos os dias mergulhava na terra
como quem vai alimentar as sementes
dos frutos e vegetais
fazendo amor, à bruta, com elas.
Os seus muitos irmãos e pais
chegavam a casa sujos,
os dentes verdes.
Eles eram o princípio da cadeia alimentar.
As mães sentavam-se sobre os animais da casa
e gozavam.
Limpavam as camas e os poucos objectos da casa,
acariciavam os instrumentos da cozinha
e gozavam.
Ele era o pastor, ele conduzia o rebanho.