13.12.12

“Porque o mundo não se acabou”


Fazer dos dias uma coisa diferente, eis o desafio. Construir as horas de uma maneira nova, porque as palavras já não cabem no mesmo caminho. Fechou-se a estrada, acabaram-se os autocarros, as manhãs iguais na fila do trânsito. Acabou-se a metáfora do trabalho. No mesmo dia, um telefonema que nada diz do outro lado. Um silêncio furado, uma chamada para duas horas de um corredor artificialmente aquecido, os olhares especialistas à procura de evidências.

Mas, lá está, “o mundo não se acabou”. Há que regressar à palavra e encontrar novas estradas. Começar por recuperar, pedra a pedra, os muros caídos à volta do quintal. Embelezar o monumento não é bem a preocupação. Antes construir uma casa a partir da arqueologia da história. Colocar os pés, com força, à força, no terreno pantanoso onde acabaremos por ficar enterrados. 

Também por isso, nenhuma promessa. Apenas a vontade expressa. Nada mais que isso.