Fazer dos
dias uma coisa diferente, eis o desafio. Construir as horas de uma maneira
nova, porque as palavras já não cabem no mesmo caminho. Fechou-se a estrada,
acabaram-se os autocarros, as manhãs iguais na fila do trânsito. Acabou-se a
metáfora do trabalho. No mesmo dia, um telefonema que nada diz do outro lado.
Um silêncio furado, uma chamada para duas horas de um corredor artificialmente
aquecido, os olhares especialistas à procura de evidências.
Mas, lá
está, “o mundo não se acabou”. Há que regressar à palavra e encontrar novas
estradas. Começar por recuperar, pedra a pedra, os muros caídos à volta do
quintal. Embelezar o monumento não é bem a preocupação. Antes construir uma
casa a partir da arqueologia da história. Colocar os pés, com força, à força,
no terreno pantanoso onde acabaremos por ficar enterrados.
Também por
isso, nenhuma promessa. Apenas a vontade expressa. Nada mais que isso.