20.12.12

O pastor; a solidão - 7


Ele sabe que não se trata de um recomeço
- afinal, estamos sempre a começar.
Os seus passos aprenderam novos caminhos
e o seu corpo modulava-se pelas sombras.
A aldeia era agora uma aldeia
e apagavam-se os traços de familiaridade
entre os seus habitantes.
A família casa a família com a família
e a memória dos homens
vai-se desfazendo dentro das mentes
que aprendem a ambicionar.
Toda a descendência da sua família
tinha os dentes verdes
e os corpos preparados para o mais básico
dos prazeres.
Todos aqueles que haviam sido jovens
eram agora os mais velhos
e só ele permanecia igual,
o mais novo dos irmãos nascidos no dia comum.
Ele era o pastor, ele conduzia o rebanho
que não parava de se multiplicar.
Os habitantes veneravam a sua passagem,
sem o compreender.
Ele descobrira a palavra
e logo aprendera a ficar calado.