Pode-se ser alegre e triste? A mulher senta-se no metropolitano e o seu olhar de criança encantada vai dançando pelas pessoas que se encontram no cais. As pupilas não param, tal é o estado de emoção com que estuda cada indivíduo, cada publicidade. Tem uma vida intensa, a sua curiosidade flutua à sua volta como uma imensa alegria.
Mas, de repente, uma mensagem chega ao seu telemóvel. O seu olhar ensombra-se, a boca como que desmaia numa tristeza pesada. Sobretudo, parece cansada. Responde e guarda o telemóvel, mas as respostas do outro lado parecem prolongar-se para lá da sua vontade. Não tem o mínimo controlo da situação e parece desesperada.
Ela parece tentar uma resposta mais dura e definitiva a cada momento. E sempre que guarda o telemóvel, a alegria volta a aparecer, como se suspendesse o velho mundo e fosse possível começar do zero. Mas o telemóvel não lhe dá descanso. Numa das paragens da linha amarela, ela levanta-se e desaparece.