Das duas uma: ou a minha memória seria uma máquina infalível, o que não é o caso, ou eu teria que me tornar numa espécie organizada de ser, o que, visivelmente, olhando a minha secretária, também não poderia ser considerado como opção. Então, estava totalmente colocado de parte o meu desejo de escrever um livro sobre os livros.
Como poderia eu encerrar esse saber enciclopédico que outros parecem manejar tão habilmente? Como faria eu essa listagem comentada de leituras e pensamentos que, daqueles que eu gosto de ler, parecem sair com tanta naturalidade? Anos e anos deixei que a minha corcunda se fosse dobrando com o peso de não ser capaz de fazer algo que muito queria. Mas não era uma desilusão. Era apenas qualquer coisa que desabrochava.
Um dia, sentado no autocarro, parado no meio do trânsito, enquanto tentava decifrar anúncios de casas, provavelmente, pouco aconselháveis, pensei que o melhor seria não fazer. Aquilo que mais desejas, não o faças. E quando, definitivamente, tiveres abandonado o teu objetivo, saberás que chegou a hora. A hora de o começar a fazer.