12.3.12

Acidentes

Eu tenho é a cabeça cheia de coisas que ou não interessam ou não posso dizer. Não posso dizer tudo o que penso, seria demasiado cruel, pouco humano, desinteressante. Os pensamentos vêm muitas vezes mutilados, desencontrados, precisam de tempo para se fazerem alguma coisa, e eu sei disso e espero. Mas também tenho a cabeça cheia de sonhos, impressões, miopias. Durmo mal durante uma noite e depois gasto a viagem até ao trabalho a imaginar aviões que caem fora de aeroportos, carrinhas de transportes que chocam, na autoestrada, umas contra as outras, pessoas que se atiram para a linha do metro assim que a carruagem entra na estação. Estou sempre de olho nas pessoas que pisam a linha amarela. “Não atravesse essa linha”, penso eu, “não a atravesse agora, deixe-me apanhar o metro e chegar a casa cedo, atire-se à linha depois”. É isso que eu penso. E não o posso dizer.

As pessoas não me iriam compreender.