Acordou bem cedo, cedo demais, tendo em conta que apenas se deitara há pouco mais de quatro horas. A sua cabeça era um despertador que não podia ser desligado. Enquanto se passeava pela cozinha, preparando o pequeno-almoço, ia abrindo armários, na tentativa de perceber o que lhe faltaria em casa. Escolheu o mercado mais longe da sua porta para fazer as compras. Entregava-se assim a uma caminhada lenta pela cidade, chegando mesmo, em parte, a sair dos limites da mesma, numa zona onde ninguém vive, apenas passam os carros que chegam ou partem.
Os olhos iam, na maior parte do tempo, no chão. Quase fechados se se cruzava com alguém. Apenas uma porta ou outra, uma janela entreaberta, lhe despertavam a atenção. Em alguns momentos quase parava, espreitando a vida para lá das paredes. Nunca via ninguém. Nenhum corpo. Nenhuma réstia de gente no meio do descalabro que era aquela zona da cidade.
Somava os artigos que precisava tendo em conta o caminho de volta. Mentalmente, ia arrumando as compras em sacos para que cada braço pudesse transportar pesos semelhantes. Doíam-lhe as costas e ficaria ainda mais maldisposto se se entregasse a um desequilíbrio de pesos, a alguns quilómetros de casa.
Na viagem de regresso, ia ficando impaciente, o suor ocupando-lhe a testa, os braços começando a latejar. Trocava os sacos de mãos, mas o equilíbrio atingido impediam-lhe a sensação de alívio. Quando chegava a casa, ficava aliviado. Não percebia bem porque sofria assim tão regularmente.