Tudo dói, Carolina, diz a avó à pequenina
e o último trago do café amargo encrava-se,
vai comigo escadas rolantes abaixo, tropeça
em gente que passa, enrolando-se em mim no
caminho até ao carro. Tudo dói, diz a senhora,
como quem o diz a toda a hora, a pequenina
encolhe os ombros, fica calada, tenta a custo
arrancar o papel do gelado que parecia ser
via verde para qualquer sofrimento. Tudo dói,
a pequena comerá o gelado, eu acabo por me
fazer à estrada e até podia dizer que a vida
segue o seu percurso, mas não segue, porque
ainda vai haver uma avó desencantada pronta
a prender as sinceras emoções da Carolina.