29.7.16

Obituário

Ali naquela estrada jaz o cadáver do encontro que 
não aconteceu, enquanto os carros continuam a descer
pelo alcatrão, a fazer pisca, a olhar quem vem lá, com 
destinos incertos e tantas vezes inseguros, mas nenhuma

preocupação. Logo ali, naquela janela que não faço ideia
qual seja, escondes-te tu e os teus óculos escuros, usados
para não ver o mundo que te saúda ou os poemas que 
nascem das rotundas mal plantadas por aí. Alguma vez 

te disseram que a arte nasce das coisas que não acontecem 
na vida real? Alguma vez te sorriram sem que nada quisessem 
de ti? Porque o mundo não é assim tão mau quando pomos 

finalmente as mãos na terra para deixar que o medo 
não tenha mais poder sobre nós ou as nossas vontades. 
Ali naquela estrada jaz o adeus ao que nunca aconteceu.