A partir de Carloto Cotta
“Quando a alma doía, o corpo era dormente”. Não foi assim há tanto tempo. Aquela longa alucinação adolescente, passada sentada num pequeno banco do café em frente à escola. Tu descias a rua e eu acendia cigarros, os dedos pousados sobre o jornal desportivo, as unhas por cortar. Tu sabes, eu sempre fui comodamente desajeitado à minha maneira e gozar agora com o tempo que passou é pouco. Não há lágrimas que viajem em calendários. É por isso irónico que eu te encontre quando, na alma sossegada, o corpo aprendeu a fazer-se tempestade. Querer e não querer são, quase sempre, sentidos diferentes que nos levam ao mesmo destino. Pois por muito que “depois de uma noite venha sempre um dia”, na minha cabeça só ecoa um “aceita, Maria”.