Ele agora está velho, mas era um rapaz todo bem posto.
Enamorou-se da Cidinha, a filha do patrão aqui da aldeia. Toda a gente lhe
disse que não era grande ideia, ficar assim apaixonado pela rapariga. Mas os
homens, sabe como são, os homens são mesmo assim, metem uma ideia na cabeça e
depois tirá-la? Não se tira. A Cidinha era mesmo a rapariga mais bonita da
aldeia, nisso ele não foi nada parvo a escolher. Mas ela lidava com os meninos
de Lisboa, que passavam aí no Verão. Tinha primos que eram estudantes. Tinha uma tia em Beja que queria
que ela estudasse. E então era com este rapaz que ela ia casar? Pois está claro
que não. Ele agora está velho, mas naquela altura não era nada de mandar fora.
A Cidinha é que estava habituada a outras coisas. Rapazes perfumados, com
camisas bonitas, engomadas. Sapatos engraxados. Como é que ela ia ligar para um
rapaz com botas do campo, com as unhas cheias de terra. Foi uma tontice.
Começou a ver-se pela cara dele na taberna, a olhar para o sol no meio da
praça, a ficar calado. Os outros rapazes punham-lhe copos à frente e ele
parecia que tinha perdido a força nos braços, nem bebia aquilo. E isto foi
quando? Foi quando a Cidinha se casou. Pois. Ela casou-se e ele ficou naquele
desânimo. Naquele apagamento. Ficou assim como está para ali, velho num
repente.