4.4.12

Carne

A carne corta-se com leveza. Seguras a faca e deixa-la percorrer o músculo, lentamente. Como se tivesse sido feito para ser cortado, o músculo vai-se abrindo ao contacto com a lâmina, sendo que, depois de cozinhado, nenhum sangue escorre do pedaço. A carne corta-se como um dia nasce, devagar, no ritmo exagerado das coisas naturais. Depois leva-la à boca como se entendesses a religiosidade do momento. Mastigas de olhos fechados, em paz, mesmo que consciente de um certo pecado, não o da carne nem o da gula, mas o da luxúria. Repousas a faca sobre a mesa enquanto engoles o bolo mastigado. Sabes que, apesar das glórias do mundo, tu podes descansar.