Pois foi, houve algazarra lá, houve. Mas não foi nada disso.
Ele desafiou um rapaz que estava no tiro ao alvo. Desafiou o rapaz e apostaram
quem acertava no alvo. E o rapaz atirou aquilo direitinho no centro do alvo.
Mesmo direitinho. E disse-lhe que se calhar nem valia a pena era gastar o tiro
que a aposta estava ganha. Ele nem o olhou. Pegou na espingarda, botou um tiro
mesmo dentro do buraco do outro, como se fossem tiros iguais, dois tiros e só
um furinho no papel do alvo e depois largou a espingarda e deu-lhe aquela
batatada na cara que o outro ficou parvo. Ficou parvo e caiu de cu, ali na
feira. Mas nem reagiu. Ficou quieto. E ele seguiu caminho e foi para a taberna
beber um copo. Eu cá para mim acho que ele já não andava certo. Já tinha havido
coisa. Não foi daquele dia. Ele já vinha com coisas na cabeça. Eu cá para mim
já havia problemas com o patrão. Ele ficava muito tempo à porta da loja, a
falar com as moças, com as freguesas, e o patrão queria-o lá atrás do balcão,
como nas lojas de Lisboa, está a ver, em que os moços ficam atrás de balcão,
assim direitinhos, à espera. Ele não era nada disso. Acendia um cigarro e
ficava ali à porta, a chamar as freguesas. E as raparigas passavam e falavam
com ele, ele fazia-as rir, era assim. Era bom tipo. Tirando os repentes, era
bom tipo. Mas já havia ali coisa, não foi em Aljezur. Aquilo foi uma briga
normal de rapazes. Ele é que já tinha coisas na cabeça. E era o patrão. O
patrão ou a Cidinha. Alguma coisa era. Já sabe da Cidinha não sabe? Essa
rapariga tinha o diabo no corpo. Ai é que tinha mesmo. O pai chegou a levá-la
ao médico e tudo. Aquilo parecia um furacão quando passava na rua. O pai
queria-a em casa e ela gritava e saía de casa, parecia doida. Só ele é que
sabia falar com ela. Mais ninguém.