Olhe, eu posso garantir-lhe que houve mesmo pancada lá em
Aljezur. Eu sei porque estava lá, então não houvera de estar. Era a festa de
Aljezur, porra, toda a gente ia lá ao domingo. Aquilo foi assim, estavam uns
rapazes na barraca do tiro ao alvo quando ele se chegou a olhar. Acho que era
rapaziada de fora, pela algazarra que faziam, ou então já vinham com a festa de
ontem, está a perceber? Aquilo era tiro no alvo e tiro em toda a parte e ele
chegou-se a olhar, daquela maneira que ele olhava, sabe? Ele ficava assim
encostado com o cigarro no canto da boca, tinha visto aquilo num jornal, que
era dos filmes ou o raio. Ele põe-se assim e a algazarra começa-se a virar para
ele. Houve ali umas palavras, de um lado para o outro, e olhe, ele era um rapaz
sossegado, mas está a ver, tinha aquele feitio de ser alto e olhava os outros…
Bem, aqueles não o conheciam e não gostaram. Atiraram-se a ele, mas ele tinha
uns braços que parecia um touro. E ele guardava a força toda. Ele guardava
aquela força durante semanas e semanas em que não se zangava com ninguém e
depois quando dava um soco, deus te livre, o primeiro rapaz que se chegou a ele
levou naquela cara com tanta força que deve ter ficado com a cara pisada
durante semanas. Depois eles eram muitos e atiraram-se a ele e ele ainda lhes
deu luta. A gente queria ir ajudá-lo mas ele negava-se. Gostava de se meter
naquilo sozinho. Também aquilo durou enquanto
o diabo esfregou o olho, ele deu o soco a um, uns pontapés nos costados
de outro, eles eram quantos, uns quatro ou cinco, puseram-se à roda dele, mas
já estava o dono da barraca a chamar pela Guarda, com medo que lhe caíssem em
cima das coisas e lhe deitassem aquilo tudo ao chão, e a rapaziada
endireitou-se toda e foi cada um à sua vida. Eu cá acho que foi só isso. Cada
um à sua vida. Ele lá devia ter mais alguma coisa.