25.4.12

Ele agora está velho - III


Olhe, eu posso garantir-lhe que houve mesmo pancada lá em Aljezur. Eu sei porque estava lá, então não houvera de estar. Era a festa de Aljezur, porra, toda a gente ia lá ao domingo. Aquilo foi assim, estavam uns rapazes na barraca do tiro ao alvo quando ele se chegou a olhar. Acho que era rapaziada de fora, pela algazarra que faziam, ou então já vinham com a festa de ontem, está a perceber? Aquilo era tiro no alvo e tiro em toda a parte e ele chegou-se a olhar, daquela maneira que ele olhava, sabe? Ele ficava assim encostado com o cigarro no canto da boca, tinha visto aquilo num jornal, que era dos filmes ou o raio. Ele põe-se assim e a algazarra começa-se a virar para ele. Houve ali umas palavras, de um lado para o outro, e olhe, ele era um rapaz sossegado, mas está a ver, tinha aquele feitio de ser alto e olhava os outros… Bem, aqueles não o conheciam e não gostaram. Atiraram-se a ele, mas ele tinha uns braços que parecia um touro. E ele guardava a força toda. Ele guardava aquela força durante semanas e semanas em que não se zangava com ninguém e depois quando dava um soco, deus te livre, o primeiro rapaz que se chegou a ele levou naquela cara com tanta força que deve ter ficado com a cara pisada durante semanas. Depois eles eram muitos e atiraram-se a ele e ele ainda lhes deu luta. A gente queria ir ajudá-lo mas ele negava-se. Gostava de se meter naquilo sozinho. Também aquilo durou enquanto  o diabo esfregou o olho, ele deu o soco a um, uns pontapés nos costados de outro, eles eram quantos, uns quatro ou cinco, puseram-se à roda dele, mas já estava o dono da barraca a chamar pela Guarda, com medo que lhe caíssem em cima das coisas e lhe deitassem aquilo tudo ao chão, e a rapaziada endireitou-se toda e foi cada um à sua vida. Eu cá acho que foi só isso. Cada um à sua vida. Ele lá devia ter mais alguma coisa.