8.2.11

Uma questão de rimas

Visto à distância, talvez o livro da minha infância que mais me tenha marcado terá sido um livro grande, do qual não me lembro o nome. O que havia dentro desse livro de imensas páginas? Cantigas, rimas, adivinhas. Não sabia eu na altura, mas aprendi com esse livro muito daquilo que hoje me interessa sobre palavras, ritmo e tradição. Estas três ideias têm andado muito na minha cabeça e é à volta delas que eu vou desenvolvendo o meu trabalho na escrita. 

Pensando bem, essa influência revelou-se desde cedo. Lá por casa da minha mãe existem ainda muitas provas, em antigos cadernos da escola primária, da minha queda para a rima, já em tenra idade. Não posso dizer que a rima, hoje, seja algo que eu produza em quantidade. Mas na noção de rima está incluída uma outra noção muito mais importante, a de ritmo, e essa sim, é fundamental no que eu faço. Um texto sem ritmo, quem o poderia ler? Não eu. Seria incapaz de apresentar um texto sem ritmo, fosse a quem fosse. Daí a importância desse livrinho.

Outros livros foram importantes na minha infância. O primeiro livro sem ilustrações que eu li, nas Férias de Natal de 1985, as colecções de livros de aventuras que devorei até aos dez anos. Mas aquelas rimas e cantigas, essas sim, ficaram comigo para o resto da vida. 


publicado no suplemento Bruxinha do Jornal Região de Leiria de 4 de Fevereiro de 2011