A cada um de nós a cruz que lhe couber. Um casal feliz, com uma vida onde tudo faz sentido, detém, à sua volta, um mundo que se desfaz. Amigos próximos que estão sozinhos e entregues a uma depressão crescente, outros que lutam contra a doença, um irmão que encontra a morte da sua mulher. Um casal feliz que, na sua própria casa, não evita ser alvo da inveja de todos aqueles que lhes querem bem.
A vida é mesmo assim, penso sempre eu perante cada filme de Mike Leigh. E ao mesmo tempo que há uma leveza que sobressai das imagens dos filmes do britânico, o peso dessa realidade sai connosco da sala e segue caminho dentro dos nossos bolsos, onde, mais tarde ou mais cedo, o haveremos de reencontrar. Sobre o que é este filme? Sobre o envelhecer ou sobre a felicidade? Sobre a solidão ou sobre o inferno que são os outros?
Os protagonistas deste casal enfrentam tudo com o sorriso fácil e a reacção implacável quando algo faz perigar o seu equilíbrio. No final de cada dia, são eles quem dorme sossegado. São, sem dúvida, eles quem está satisfeito com aquilo que tem. Pode pensar-se que tiveram sorte. Eu prefiro acreditar que tiveram força.