Bill Simmons, no seu The Book of Basketball (ou a história da NBA vista pelo famoso jornalista Americano), lista uma série de atletas e dando preferência àqueles jogadores que conseguiram ser geniais, ainda que apenas durante um ano, em detrimento de tantos outros que conseguiram longas carreiras sem nunca serem melhores que bons.
Tento ver isso na perspectiva do escritor. Para começar, o escritor seria um atleta que só joga finais, uma por ano, às vezes menos do que isso. Durante o resto do tempo dedicar-se-ia a treinar (leituras, rascunhos, pequenos projectos) ou a fazer jogos de exibição (leituras públicas, sessões com leitores, visitas a escolas e bibliotecas). Muitos deles, até, se recusariam a mais do que quatro ou cinco jogos de exibição anuais, a não ser que se aproximasse uma dessas finais (a publicação de um livro).
Para mais, durante todo esse tempo, o escritor iria ter momentos de menor confiança, incapaz de mostrar, até no treino mais básico, qualquer semelhança com o génio que lhe surgiria na final. Que treinador apostaria num atleta assim? Acredito que, pelos parâmetros com que analisamos a performance (desportiva, mas também, económica, financeira, etc.), nunca nenhuma oportunidade seria dada de mão beijada a um escritor. Para que se lhe evidenciasse o génio, ele teria sempre que beneficiar de um golpe de sorte (um tema que ocupasse as páginas dos jornais, um amigo que lhe fizesse um favor, uma inexplicável teoria que defendesse que certos livros vendem mais do que outros, a priori, sem contar com mais nenhuma das variáveis).
Em tempos onde a performance é a base do sistema em que vivemos, o escritor que pudesse participar em mais finais, teria também o benefício da escolha, embora numa contrariedade à lógica, demasiadas finais tendam a desvalorizar aquilo que o escritor produz. O escritor é assim empurrado para uma roda de questões que o fazem estar em teste permanente, como se a pressão fosse amiga da criação literária, ou como se ser bom não fosse já o suficiente para a maioria daqueles que se dedicam a um determinado ofício.
Ainda assim, é certo que nos nossos corações, vivem os escritores que conseguiram, uma vez na vida, jogar a final com genialidade. Os que foram apenas bons nunca entram nas nossas listas de favoritos. Saber viver com isso é, de certa forma, o desafio que qualquer escritor tem que aceitar no dia em que dá o nome para ser um atleta federado.