Aprender que um romance pode utilizar o discurso directo como se lhe fosse natural. Aprender que uma vida inteira pode ser uma pequena história, saiba-se escolher o que realmente importa. Aprender que um homem banal pode ser agente de grandes feitos (positivos ou negativos). Aprender a pensar balcânico, sobretudo.
Dragoslav Mihailovic ensinou-me tudo isso nas 112 páginas desse livro. Um livro que não pude parar de ler mal comecei. Se alguma coisa podemos aprender sobre o ser humano, neste livro, é que o prazer da casa só se nota na distância. Quando estamos dentro dela, assumimos-lhe as responsabilidades. Como se fosse uma obrigação de sangue, talvez. Mas quando saímos, percebemos que ali havia uma forma de viver que não existe em outro lugar.
O "Campeão" deste livro sabe, ainda, que o sossego é algo que nunca se pode encontrar. Por muito que nos obriguemos a delinear um objectivo e a atingi-lo. O passado não se arruma, é algo que poderá vir sempre a perseguir-nos. Seja por vontade dele, seja pela nossa capacidade de vivermos sempre tudo dentro da nossa cabeça. O "Campeão" deste livro tem, no entanto, a coragem de dizer como aconteceram as coisas. Talvez com a esperança de fechar uma porta, sem necessariamente abandonar o lugar onde se está preso.
A cena mais intensa deste livro ensina-nos uma outra lição. Moribundo, o "Apache" usa as suas últimas forças para perguntar pelas abóboras em flor. Depois, cala-se para sempre, deixando partir em liberdade o seu próprio carrasco. Seguir para o outro mundo a querer saber da beleza deste. Esta deveria ser, sempre, a nossa filosofia.