27.1.11

Ajuste

Não se trata de ajustar contas com o passado, trata-se mais de reflectir sobre o futuro. Perceber como se te cola uma imagem que até tu, em certo tempo, acreditaste ser realmente a tua. Mas, na verdade, nunca foste um dos poetas do dia-a-dia, nem das frases despidas, nem dos sentimentos urbanos. A melhor prova de tudo isso é  teres estado sempre afastado do núcleo de quem o defendia. 

No entanto, a exposição é inimiga da compreensão. O que mais foi lido terá sido o que de mais próximo desse grupo produziste. Um conjunto de poemas ao qual não darás grande préstimo, a cada releitura que fizeres da tua obra. Estás agora bem mais próximo do ponto onde começaste, com todas as experiências dos livros publicados, dos sonhos, relativamente adolescentes, também liberto.

Resta-te continuar, não a pintar a vida como ela é (coisa que a bem da verdade nunca muito te interessou), mas sim a vida como ela te aparece (e tu bem dizias, há cinco anos atrás, o quanto a tua poesia era míope). Deixaste tu de ver durante os tempos, cegando assim a leitura de quem vem desprevenido. Não há volta atrás. Trabalha agora com o que tens. Pois bem sabes que não há caminho sossegado até ao cais.