21.1.11

Doze

Doze meses a viver dentro da poesia dos outros. A aprender-lhes a respiração, as palavras preferidas, as designações da ilusão. Doze meses a perceber o outro por dentro. A evocar uma geração toda ela feita de diferenças.

Doze meses na ansiedade de não falhar. O pânico do silêncio para pensar. O olhar vagueando por quem nos ouve. Felizmente, quase nunca uma resposta ao lado. Quase nunca uma desilusão. Doze meses aliviado pela inteligência dos outros.

Doze meses a respirar fundo no fim de uma sessão. A deixar-me embalar pelos sons que se descobrem ao fim da noite. A ver nos olhos dos outros o prazer de um encontro. Como se fosse possível ter sempre a gratificação de fazer descobrir algo a alguém.

Doze meses. Doze meses e apenas mais um, o que falta. Um ano inteiro a viver para a poesia dos outros. Um ano inteiro a aprender. A aprender muito. Doze meses e a segurança de que o poema pedido vai continuar a tocar no gira-discos de cada um.