8.8.16

Português sem filtro

Com um martelo quebra as montras onde vê
a sua própria imagem refletida, incapaz de fazer
as pazes com os seus próprios falhanços. Exige
dos outros aquilo que não consegue para si próprio, 

ensaia o discurso de pai inserindo sentenças nas 
cabeças calvas dos que se dignam a ouvi-lo. Fala, 
a maior parte do tempo, sozinho, sem ninguém que 
se determine a cumprir-lhe as indicações ou a beber-lhe 

os conselhos. Não entendeu ainda que com martelos 
não se caçam borboletas, nem se escrevem poemas 
em folhas brancas de computador. Não entendeu, 

sequer, que o lá fora dos velhos clássicos é ainda 
mais seco e inócuo do que o seu próprio comércio, 
apenas filtrado pelo tempo - o que tudo cura.