14.6.16

Um empate

Já só somos felizes com o que soa a pouco. 
Um amigo que encontra emprego 
e se descobre nas mãos de um sádico chefe, 
uma solução precária para a saúde
de uma vítima de doença prolongada, 
o pequeno arranjo que mantém 
o carro a andar, mas sem esperanças. 

Podemos fazer a festa com um empate. 
Não esperamos muito mais da vida toda, 
essa certeza que não precisa de provas
de que o falhanço é seguro e inevitável. 

Já só somos felizes por não sermos infelizes.
Uma bola que quase entrou na nossa baliza
e foi salva com a mão pelo melhor jogador, 
a última cerveja da noite numa barraca
onde não existe um frigorífico, 
uma dor qualquer que não sabemos explicar
mas que ainda nos deixa andar em pé.