Já só somos felizes com o que soa a pouco.
Um amigo que encontra emprego
e se descobre nas mãos de um sádico chefe,
uma solução precária para a saúde
de uma vítima de doença prolongada,
o pequeno arranjo que mantém
o carro a andar, mas sem esperanças.
Podemos fazer a festa com um empate.
Não esperamos muito mais da vida toda,
essa certeza que não precisa de provas
de que o falhanço é seguro e inevitável.
Já só somos felizes por não sermos infelizes.
Uma bola que quase entrou na nossa baliza
e foi salva com a mão pelo melhor jogador,
a última cerveja da noite numa barraca
onde não existe um frigorífico,
uma dor qualquer que não sabemos explicar
mas que ainda nos deixa andar em pé.