Chamar heroico ao tempo,
não ao que passa mas ao que fica,
à chuva, ao sol e ao vento,
menos do que quem se admira,
mas por paixão se encara,
frente a frente,
com os da natureza poderosos elementos.
Chamar heroico ao tempo,
simples jogo de palavras
que se vai perdendo por traduções,
constância de quem se quer vivo
e, passo a passo, se aproxima
do que dentro do coração
o faz sentir-se humano.
De invocar Ruy Belo passou o metro,
desmedida sensação de quem
não se fez português por encomenda,
montado nos livros das bibliotecas.
Agora arruma-se em bens mais antigos
e por ofício, mais que por desejo,
burila lentamente cada letra
sem ideia da palavra que sustenta.
Chamar heroico ao tempo,
gritar pelas ruas vivas sem,
ao menos, saber de antemão
a saciedade crescente nos pulmões,
tão cruas fossem as necessidades
de quem assim se encontra,
num repente, ausente de todas as certezas.
Chamar heroico ao tempo,
pois não se acanhem,
chame-se às coisas o que elas bem merecerem
e siga-se em direção à frente,
a guerra não se faz na ausência,
nem os corpos tremem por apartado,
assim se escreve lei neste lugar.
Variação sobre tema de Alexandre Desplat