23.5.12
Antes e depois de 1996 (3)
Quando um autor tem o condão de nos fazer sentir isso, a nossa tentação é perseguir os seus outros livros, em busca da repetição dessa sensação, como se fossemos viciados no consumo de determinadas sensações. E a má notícia que José Saramago tinha para mim é que, em mais nenhum outro livro, eu poderia encontrar essa satisfação de leitor encantado. Não me encontrei no Evangelho segundo Jesus Cristo, nem no Ensaio sobre a Cegueira, nem nas Intermitências da Morte. Saramago fez a sua carreira a escrever bem, uma escrita que só os grandes nomes clássicos da literatura mundial conseguem assegurar, mas faltou-lhe sempre o brilho que reserva, para além da racionalidade, um lugar no coração dos leitores.