22.5.12
Antes e depois de 1996 (2)
Mas o Memorial do Convento, nesse ano de 1996, teve o condão de me agarrar a atenção, talvez porque eu fosse um jovem freak, interessado pela história do meu país (coisa que, na sua maioria, eu não compreendia, como é que um país tão pequeno foi capaz de produzir tanta tecnologia e gerar tanta riqueza, para depois, em meras operações de um insuportável laxismo católico-romano, se tornar naquilo que sempre foi, um país dependente da boa vontade de estranhos), ou talvez porque eu vivesse (como ainda vivo) bem perto de Mafra e toda a história daquela imensa construção que inunda a paisagem da pequena vila do oeste de Portugal fosse, afinal, uma coisa bem próxima, capaz de ter envolvido alguns dos meus antepassados, capaz de ter decorrido em terrenos que eu acabei por vir a pisar. Fiquei agarrado, não a Saramago, mas à sua participação nesta ideia de que a literatura serve para nos fazer sentir na pele aquilo que o ser humano já foi, vai ser ou poderia ser se, em algum momento, as coisas se tivessem passado de maneira diferente.