13.1.17

Ator secundário

Tu perdes todos de quem gostas, ao ritmo das rodas-dentadas da carruagem, num comboio com destino para lugar algum. Era ele o homem perdido que caminhava em busca de uma coisa que ninguém por perto compreendia. Talvez por isso parecesse sempre tão calado, tão sentido, tão ausente. O seu mundo era um outro, onde vestia a casaca de uma personagem e o ser estranho era uma espécie de cartão-de-visita para o mundo. Tu perdes todos de quem gostas, cantavam-lhe ao ouvido, como há certas músicas que não conseguimos tirar de dentro da cabeça, como há memórias de que não nos sabemos proteger. O comboio seguia, num homem de face imperturbável, pronto a ser herói da sua causa: ator secundário da história do mundo.