Desço a rua pelas últimas vezes, saboreando assim um ritual que se irá perder muito em breve. Sabermos, de antemão, do fim de uma rotina, dá-nos tempo para entender melhor aquilo que fazemos. Porque é que, ao longo do tempo, fui escolhendo esta rua, e não outra, para chegar ao destino; quem são estas caras que eu reconheço, sem nada mais saber do que o facto de com elas me cruzar nesta rua.
Desço, então, a rua, pelas últimas vezes, nada amargado com a situação reconhecida, nem sequer desiludido com o fim de algo que não soube bem como começou. O sol decidiu aparecer, apesar da brisa gelada que vem do rio. Na calçada, mais uns taipais anunciam novas obras, reconstituições. Sinal de que nada é para sempre, nesta rua, nesta vida.